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Curso gratuito pré-vestibular apoia jovens que querem mudar a própria realidade

18/05/2018

Com aulas no espaço Casa1, em São Paulo, Acqua e Noctuam Educação iniciam nova etapa do projeto Universidade Cidadã

Jhon não está sozinho. Nos últimos anos ele pensou que a rua fosse sua única companhia, mas tão breve descobriu que manter o foco e alimentar a inteligência o levariam a ter as melhores amizades: jovens dentro da sala de aula. Jhon é Jhonatan Matheus Martins Fonseca, de 20 anos, que há três meses mora na Casa1, uma república de acolhimento para LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) que foram expulsos de suas casas. O espaço, localizado na região do bairro Bela Vista, em São Paulo, atende dezenas de jovens que estão em busca de tudo aquilo que um dia não encontraram. Jhon, mais ansioso, já encontrou. Quer ser estudante de moda, transportar seu imaginário criativo para o papel e alinhavar um futuro mais equilibrado, perto do colorido das roupas e da criação que tanto ama.

“Desde criança gosto de moda, de vestir bonecas e desenhar roupas. Tenho alguns desenhos, mas não mostro porque costumo dar eles para as pessoas. Aqui na Casa1 já virei o consultor de moda de todo mundo. É onde me encontrei. Espero logo cursar a faculdade e poder ter uma marca própria”, define Jhon.

As unhas pintadas de preto, o cabelo descolorido e as tatuagens revelam a personalidade de Jhon. Para ele, é apenas estilo, mas quem o observa atentamente logo percebe que seus sonhos se fazem presentes em suas atitudes. No braço direito, carrega a escrita "+ amor" e no peitoral, o nome da mãe, de quem sente saudade e orgulha-se ao lembrar dos bons momentos.

Com a mesma vontade do jovem, outros 29 estudantes se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio deste ano, a partir de aulas do projeto Universidade Cidadã, que oferece curso preparatório gratuito – iniciativa do Instituto Acqua em parceria com a Noctuam Educação. Para integrar a ação, prioriza a participação de pessoas de baixa renda que farão o ENEM, mulheres chefes de família sem trabalho, pessoas da comunidade LGBT, pais e mães solteiros que tenham a guarda de filhos menores de 18 anos, responsáveis legais de pessoa com deficiência física ou mental e indígenas, além de considerar critérios de raça para a seleção dos alunos.

Thaís Salles Bartelotti, de 34 anos, é médica-obstetra formada pela Universidade de São Paulo, a USP. Sua vida teve reviravolta quando encontrou-se com a depressão. Sem nunca ter tido contato profissional com o ramo que escolheu, ela optou pelo curso gratuito na tentativa de se reencontrar e acessar o curso de pedagogia. “Sou formada, mas nunca tive contato profissional com a área que escolhi. Enfrentei crises de depressão, dúvidas e medos. Me entreguei a um cenário que tirou minhas perspectivas. Quando soube da abertura das inscrições para o cursinho, não tive dúvida”, comenta.

Se por um lado há geração preparada do ponto de vista das habilidades, mas despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Do outro, existe divisão. Alguns foram ensinados a acreditar que nasceram com o patrimônio da felicidade. E outros tantos, aprenderam a partir da dor. “Muitas pessoas já sentem o peso da exclusão, do preconceito. E para amenizar essa realidade nada melhor do que passar pela Educação e Cultura. É um grande orgulho saber que jovens podem mudar suas vidas a partir desse projeto”, pontua Ronaldo Querodia, diretor-presidente do Instituto Acqua.

Com aulas três vezes por semana, o curso ainda oferece palestras, visitas a universidades paulistas, simulados e atividades culturais e didáticas. Danilla da Silva Tavares, 22 anos, realizou o cursinho em 2017. Ela acessou o Universidade Cidadã via critérios de baixa renda e passou em dois vestibulares (sendo um 5º lugar na Federal de Tocantins), mas decidiu iniciar o curso de psicologia na Uninove em São Paulo, via ProUni.