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Sarau com imigrantes e refugiados no Instituto Acqua amplia olhar do Grande ABC para questão migratória

13/11/2017

Evento reuniu artistas de vários países que mostraram poesia, dança e música para enaltecer suas culturas e apontar desafios

Imigrantes e refugiados de vários países apresentaram, no sábado (11/11), um sarau com música e poesia típicas de seus países no Espaço Vivências e Convivências do Instituto Acqua, em Santo André. O evento, com entrada gratuita, teve como proposta discutir a situação dos refugiados no Brasil e também colocar em pauta a diversidade cultural destes povos. Por meio de manifestações artísticas, os músicos e poetas expressaram suas dificuldades e preocupações, dentro de uma realidade diferente da que estavam habituados antes de deixarem seus países.

Entre os artistas que realizaram exibições está o Balett Fareta Sidibé, grupo de bailarinos, cantores e percussionistas originários da Guiné Conacri, na África Ocidental. Outro destaque foi o cantor Yannick Delass, da República Democrática do Congo, que apresentou letras com forte cunho político e social. Jéssica Areias, nascida em Luanda, capital de Angola, também movimentou o público com canções próprias e repertório de música popular angolana – cantando em português, crioulo e umbundo. Os Escolhidos, quarteto vocal formado por imigrantes e refugiados da República Democrática do Congo, encantou apresentando repertório cantado à capela levando sonoridade do zouk, a rumba congolesa e outras tendências da música moderna africana.

Outra voz que ritmou o público do Grande ABC foi a de Oula Al Saghir. Nascida em Homs, na Síria, ela apresentou o cancioneiro árabe com a poesia de resistência palestina ao lado do pianista brasileiro Nelson Lin. “Quando ouvi a voz dela, me tocou muito. Eles são a raiz da nossa civilização. Mexeu comigo. Pensando musicalmente, eles colocam as notas de uma forma que não estamos acostumados a ouvir. A suavidade da Oula me surpreendeu, porque ela canta sem fazer esforço. Primeira vez que participo de um evento como esse”, opinou Reinaldo Macabel, 38 anos, professor de música de São Bernardo do Campo.

Além das apresentações artísticas, quem passou pelo sarau pôde degustar gastronomia árabe assinada pelo chef Davi Abdo. Abobrinhas recheadas, charutos, quibes e mjadras (arroz com lentilha e cebola caramelizada) foram alguns dos pratos comercializados com os acompanhamentos tabule, babaganoush e homus. Valquíria Góes, 54 anos, arquiteta de Santo André, ficou surpresa com a diversidade das atividades e adorou a culinária. “Confesso que vim sem grandes expectativas, foram algumas amigas que indicaram o evento. Fui surpreendida desde o cheiro até a música. As apresentações foram maravilhosas e a comida estava excepcionalmente deliciosa”, comentou.

Para o chef Abdo, essa interação entre outros povos com os brasileiros é essencial para a cultura e gastronomia. “Partindo da ideia de que a gastronomia também conecta as pessoas, essa aglutinação e multiplicidade de culturas é incrível. Acho muito importante atividades como essa, que promovem o encontro de países e possibilita a esses grupos expressar suas linguagens, sua sonoridade e também sua cultura. A receptividade foi muito grande aqui e achei gratificante participar dessa iniciativa. Foi uma grande oportunidade tanto para esses artistas, que mostraram o que sabem fazer, quanto para nós, que passamos a conhecer essa diversidade de expressões musicais”, afirmou o chef, que é bisneto de libaneses.

Alerta do mundo para o Brasil

Recente levantamento do Comitê Nacional de Refugiados (Conare) apontou que entre janeiro e julho de 2017 houve 15.547 pedidos de refúgio de estrangeiros para o Brasil. O número já é 51% maior que as 10.308 solicitações recebidas em todo o ano de 2016.

As nacionalidades dos solicitantes de refúgio também aumentaram, de 96 em 2016 para 116 até julho de 2017. O número indica a formação de novos movimentos migratórios em direção ao Brasil. A Venezuela está no topo do ranking, com 6.823 solicitações durante os primeiros sete meses do ano, um aumento de 102% se comparado aos 3.375 pedidos registrados em 2016. Em seguida aparece Cuba, Angola e Senegal.

Para Ronaldo Querodia, diretor-presidente do Instituto Acqua e organizador do sarau, por essa pauta sobre refugiados estar em alta e, em soma ao número crescente de imigrantes no Brasil, o evento teve movimentação relevante que desperta um novo olhar para a causa. “São pessoas que perderam muito, desde a casa, os familiares, os bens e a possibilidade de morar na própria nação. Elas não estão somente em busca de uma oportunidade, mas lutando para viver. A questão do refúgio é uma questão de humanidade. Trata-se de reconhecer um dos piores momentos que um ser humano pode enfrentar norteados pela miséria imposta e o isolamento. Esse sarau teve caráter de acolhimento, mas sobretudo de vitrine que revela a arte sobressaindo aos desafios”, pontuou.